A caverna (...) é o mundo sensível onde vivemos. O fogo que
projeta as sombras na parede é um reflexo da luz verdadeira (do Bem e das
ideias) sobre o mundo sensível. Somos os prisioneiros. As sombras são as coisas
sensíveis, que tomamos pelas verdadeiras, e as imagens ou sombras dessas
sombras, criadas por artefatos fabricadores de ilusões. Os grilhões são nossos
preconceitos, nossa confiança em nossos sentidos, nossas paixões e opiniões. O
instrumento que quebra os grilhões e permite a escalada do muro é a dialética.
O prisioneiro curioso que escapa é o filósofo. A luz que ele vê é a luz plena
do ser, isto é, o Bem, que ilumina o mundo inteligível como o Sol ilumina o
mundo sensível. O retorno à caverna para convidar os outros a sair dela é o
diálogo filosófico, e as maneiras desajeitadas e insólitas do filósofo são
compreensíveis, pois quem contemplou a unidade da verdade já não sabe lidar
habilmente com a multiplicidade das opiniões nem mover-se com engenho no
interior das aparências e ilusões. Os anos despendidos na criação do
instrumento para sair da caverna são o esforço da alma para libertar-se.
Conhecer é, pois, um ato de libertação e de iluminação. A paideia filosófica é
uma conversão da alma voltando-se do sensível para o inteligível.
Essa educação não ensina coisas nem nos dá a visão, mas ensina a ver, orienta o olhar, pois a alma, por sua natureza, possui em si mesma a capacidade para ver.
(M. Chauí, Introdução à história da filosofia. São Paulo: Companhia das Letras, 2002)
Essa educação não ensina coisas nem nos dá a visão, mas ensina a ver, orienta o olhar, pois a alma, por sua natureza, possui em si mesma a capacidade para ver.
(M. Chauí, Introdução à história da filosofia. São Paulo: Companhia das Letras, 2002)
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